Memórias da Vovó Dina – parte 23

O meu casamento foi marcado pelas mudanças.

Primeiramente fomos morar em casa de uma senhora que gostava muito de meu marido – d. Sinhá Zau. Ela foi experimentar e ver se conseguia morar com a nora. O filho, Otavio Zau, casara em segundas núpcias e ela, a sogra, não gostava ou não gostou da escolha do filho. Otávio ia montar uma fábrica de guaraná. Não deu certo e d. Sinhá pediu a casa de volta, que apesar de boa – três quartos, sala de jantar, cozinha – faltava uma útil dependência: não tinha banheiro. No fundo das casas passava o bicame ou aqueduto, que fornecia água para a fábrica de tecidos e consequentemente para as casas de toda aquela região que davam os fundos para o bicame. Servia de banheiro de despejo dos urinóis e água para limpeza. Água de beber e cozinhar se comprava e guardava em potes de barro.

Mas voltando à vaca fria, isto é, à desocupação da casa, voltamos de mala e cuia para casa de meus pais, pois apesar da promessa do Dr. Malcher, ele não nos arrumou moradia.

Casamos em outubro e ficamos até começo de janeiro em nossa primeira casa.

Viemos para casa do velho Fernando. Ainda hoje penso como coube toda a nossa tralha naquela casa que era menor que a outra. Logo estava grávida e graças ao bom Deus não tive enjôos. Em março veio a minha tia, que estava muito doente, ficar também em nossa casa. Ficou dormindo na sala com minha avó, pois não havia outro cômodo. Num quarto ficavam meus pais, no outro, eu e Anthenor, no terceiro que era pequeníssimo, ficava meu irmão José Pinto.

Em abril Idalina morreu, deixando minha avó mais do que desolada, desesperada. Apesar de se dizer espírita, não aceitava a morte da filha. Ficou tão magoada que resolveu não usar mais a mediunidade para nada. Nem para curar mau olhado.

Fernando Ariel, o primogênito, com 1 ano de idade, 1937

Em outubro nasceu Fernando Ariel. Criança grande, muito branca, olhos azuis, louro (era meu filho?). A mãe era tão diferente dele que não quis mamar. Não aceitou o seio por mais que tentasse. Foi criado com leite condensado. Era um menino forte e bonito. Quem o vê hoje com aquele barrigão não diz.

Foi a maior alegria da minha mãe a chegada do neto. Só esteve com ele 8 meses. Morreu repentinamente aos 39 anos.

Quando Ariel tinha cerca de 4 meses, nós fomos a Rio Largo. Ao chegarmos, mamãe com o amor e alegria por nos ver, especialmente o neto, pegou-o no colo e correu para mostrá-lo à Sinhá. Nós éramos vizinhos e a maior comunicação era feita por trás das casas conjugadas. Para subir para casa do tio Getúlio, havia uma escada de cimento de uns 5 ou 6 degraus. Ao voltar com a criança, ela perdeu o equilíbrio e caiu lá embaixo no quintal. Tinha uma altura de uns dois ou dois e meio metros. Feriu a cabeça donde saía muito sangue aos jorros. Havia se ferido no alicerce. Quem a tirou de lá foi o marido de Magnólia, irmã de Sinhá que haviam chegado também de Maceió.

Ainda hoje me pergunto como ele, o Santana, conseguiu trazê-la. Pesava uns 80 Kg, a pobre da minha mãe. Ariel sofreu algumas pequenas escoriações. O Anthenor foi correndo chamar o meu pai na fábrica. Ele disse que foi a primeira vez que o viu correr. Enquanto isso, acudíamos minha mãe meio desmaiada, sentada numa cadeira. Molhou com o sangue do corte uma toalha de banho. Quando meu pai chegou, fez o curativo e levou-a para deitar. Isto aconteceu em fevereiro. Pela semana santa foram ela e meu pai ficar conosco uns dias em Maceió.

tia Ester (de óculos), vó Regina (de vestido florido), Fernandina (sentada e em primeiro plano, em dupla exposição) e tia Haydée, sentada à direita.

Em 17 de junho de 37 ela faleceu em consequência de um unheiro preto (espécie de panarício) que lhe apareceu no polegar da mão direita. Foi operada cruamente na quarta-feira, mas a diabetes e a grangrena a levaram às 6 horas da manhã da quinta feira. Aos 39 anos faleceu minha mãe de saudosa memória. Deus a abençoe. Idalina, sua irmã, tinha falecido no ano anterior aos 29 anos. Meu avô Agérico, pai delas, tinha falecido em 35, um mês antes do meu casamento.

(continua… aguarde a próxima postagem de Minha Vida)

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