Memórias da Vovó Dina – parte 29

Viajamos para Ouro Fino de avião até São Paulo, o nosso compadre Manuel Lucas foi nos esperar no aeroporto e logo se apossou da Anajas, que tinha 3 meses. Dormimos lá, depois de um farto jantar e no outro dia, logo cedo, fomos de ônibus para o nosso destino.

Lá estava nos esperando o nosso dileto e também querido amigo, Antonio Machado. Havia sabido no banco da chegada dos alagoanos, donde ele e ela, a mulher e a filha mais velha, provinham. Ele foi para nós um verdadeiro esteio. Ajudou-nos em todos os sentidos. Ele e a mulher, a Neném foram os maiores amigos que tivemos por toda a vida deles.

Anthenor havia sido nomeado contador do banco, mas na véspera da nossa chegada, o gerente tinha dado “ás de vila Diogo”. Descobriram-no com a mulher de um figurão lá’ de Ouro Fino no porão do banco e eles fugiram para não sei onde. Deixaram ambos respectivos cônjuges e filhos… e dizem que a paixão é incontrolável e assim, se juntaram os dois na maior besteira que um homem e uma mulher fazem nesta vida. O resultado, dizem, que se separaram. Não sei e nem me interessa saber, só peço a Deus que tenham juízo e vergonha.

Para substituir o fujão, veio um casal do Rio. Marido, mulher, dois filhos e dois sobrinhos. Até aí, nada demais. O “demais” é que gostavam de jogar cartas. Uma noite pediram para jogarem lá em casa. Ficava feio dizer não. Por isso foram uns 5 ou 6, não me lembro quantos e ficaram jogando até umas 10 horas da noite. Anthenor e eu sentados fora, vendo aquele absurdo em nossa casa.

Quando terminaram, não sei quem ganhou ou perdeu. Ao saírem, a Zelinda, mulher do gerente, me perguntou quando podiam voltar. Eu lhe respondi: – Sinto muito, mas dia nenhum. Nem eu, nem meu marido jogamos e apreciar jogo não é o nosso forte.

Ela deixou de falar comigo. Fiquei muito “triste”por isso.

Haydée

Na época da minha operação em Belo Horizonte, fui uma noite assistir uma reunião espírta em casa de um senhor que trabalhava no Banco. Um belo casal: ele e Maria Leonor. Éramos somente nós três. Veio pai João e perguntou-me se eu queria pedir alguma coisa. Ele falava meio português, meio africano e a Maria Leonor era quem traduzia. Eu disse que gostaria de sair de Ouro Fino. Era uma boa cidade, mas a vida lá era muito livre para adolescentes e a minha casa era cheia deles. Deus sabia o medo que nós tínhamos. Jogo e outras coisas eram permitidos.

Infelizmente era verdade. Hoje não sei. Espero em Deus que tenha melhorado. Aconteceu tudo isso no começo do ano. Uns dois meses depois uma carta da Maria Leonor dizendo que pai João mandava-me dizer que me preparasse, porque em breve sairíamos de Ouro Fino.

Em dezembro de 49, nasceu Haydée Ariani. Eu não podia parar. Era contra a minha lei.

(continua… aguarde a próxima postagem de Minha Vida)