Com a chegada de Anthenor as nossas brincadeiras de criança aumentaram. Devido ser sozinha, o meu grupo era muito pequeno. Me dava melhor com Magnólia, mas só duas meninas não fazem uma roda nem brincam de esconder. Aumentou o grupo com Rubenita, Wladimir e mais uma meia dúzia de crianças que mediava a nossa idade. Brincávamos de artista de cinema, de esconde-esconde ou chicote queimado, empinar papagaio (coisa que nunca consegui fazer), amarelinha ou avião, pular corda, jogar pedras (pedras bem bonitas). A turma unida e animada.
A mais chata, encrequeira, era a Rubenita, irmã de Wladimir. Mais moça que nós (Magnólia e eu), era criada com todo o mimo que pais pobres podem dar a uma filha. Não gostava de ser chamada Rubenita e sim Benita. Nessa época só existiam três filhos – Wladimir, Rubem e ela. Depois nasceram Carmem, que morreu pequenininha, e Carlito, afilhado de meus pais e meu de apresentar (no norte tem a madrinha de apresentação, isto é, a que carrega o bebê até a pia batismal). Só que quando fomos batizar o Carlito, ele já tinha 7 anos e eu 14. Isso aconteceu em Viçosa (AL), quando moramos lá por um ano.
Mas, voltando a Carmina, sua mãe, era uma mulher bonita e meu querido compadre Manoel Lucas também não era de se jogar fora. Para falar com franqueza, Rubenita sempre foi a mais feia. Quando nasceu Liege, ela já era aluna do Santa Sofia em Garanhuns (PE). Devia ter uns 15 ou 16 anos. Foi ela que pôs o nome na irmã de Liege. Minha mãe descobriu a tradução do nome e só chamava a coitada de Cortiça.
E assim a nossa vida foi indo tranqüila. Não era vazia. Depois que voltamos de Viçosa onde moramos por um ano, como já disse, eu havia mudado um pouco. Também já estava com 14 para 15 anos. Diziam que era bonita. Gostava de dançar, de cinema, de festas de rua. As festas de fim de ano e de carnaval eram o máximo para meu espírito vagabundo. Gostava de ler. Comprava toda a semana, revistas de cinema – a Cena Muda e Cine Arte. As revistas tinham resumo dos filmes, cenas e retratos dos mesmos. Devorava romances e talvez por isso, sonhava demais com o que não tinha e gostaria de possuir.
O diretor-presidente da Companhia, Sr. Gustavo Paiva, organizava festas e o carnaval era a sua grande representação para o operariado. Existiam duas bandas de música da própria Companhia. O primeiro maestro foi meu avô Agérico. Quando ele se afastou, veio o Sr. Japiassú. Foi aí que organizaram duas bandas. Minha prima Floristela, filha de tio Getúlio e tia Sinhá, fazia parte – tocava saxofone. Era tão boa na arte que comandava a parte feminina.
O carnaval era a nossa melhor festa. Nos dois primeiros anos, as máscaras, as alegorias, as idéias de fantasias, tudo foi organizado pelo tio Zeca. Os dois principais carros alegóricos eram: um dedicado ao Mossoró, cavalo brasileiro que ganhou o grande prêmio, na Argentina. Era feito de papel machê, grande, maior que o normal. Tudo muito bonito. O outro foi um canhão grande, imenso.
A música era correspondente, animação que só o nordestino sabe fazer quando quer. O Sr. Gustavo nos cedia tudo, até as fantasias.
Quando o tio foi embora, quem o substituiu foi o Sr. Teotonio. Ele não trabalhava na fábrica, mas alguém o recomendou prazerosamente.
Desta vez o carro principal foi um dragão. Montado em um enorme caminhão, parecia aquele dragão das procissões chinesas. Quem seguia o dragão estava vestido a caráter. Tinha chinês a dar com o pau. Até os músicos.
Era isso, essas festas que nos davam alegria. Isso e mais os bailes de carnaval no domingo e na terça. O fim de ano também se encerrava com baile, fora as festas de rua em Rio Largo e Cachoeira.
Não se pode dizer que não tenho saudade… mesmo porque só solteira eu “fuzarqueei”. O seu pai não gostava (será que gosta?) de festa, muito menos de dançar. Meu pai ainda dançava quadrilha e coco e ele nem isso. Das poucas coisas que senti falta, foram as festas, bailes, pic-nics.
(continua… aguarde a próxima postagem de Minha Vida)