Cristina, Tininha para os íntimos, era afilhada da minha mãe.
Solteira, morava com os irmãos que trabalhavam na fábrica, enquanto ela ficava em casa, labutando.
O Sr. Arlindo Monteiro ficou viúvo com dois filhos menores. A filha mais velha, Maria Julia, casada, não ligou nem para o pai nem para os dois irmãos. Havia mais dois rapazes que moravam no Rio.
Só, com as duas crianças, ele resolveu não ficar sem uma companheira e em poucos meses casou com a Tininha.
Dessa união nasceram 3 filhos: Abiassi, Marci e Delmari. Esse último morreu ainda pequenino e a Tininha fincou inconsolável.
Um belo dia, indo à Maceió, uma amiga lhe falou de uma criança, praticamente abandonada pela mãe, se ela não gostaria de vê-la. Foi-se a Tininha ver a criança.
Tinha o inocente alguns meses de vida e de sofrimento. Estava dentro de uma rede, choroso, sujo e tendo por brinquedo uma tesoura. A mãe ausente para quem o filho era um estorvo ganhava vida sabe Deus como.
O pai era farmacêutico em Maceió e a pobre criança “vivia” dessa maneira.
Condoída com aquela miséria, Tininha esperou que chegasse a fulana para saber se ela lhe daria o filho.
Não houve negativa nenhuma. Registrado o menino, levou-o a mãe do coração para Rio Largo.
Batizou-o com o nome do último filho.
Os padrinhos foram Anthenor e a tia Ester de quem a Tininha era amiga incondicional.
Delmari foi criado com muito amor e carinho dos pais e irmãos adotivos.
Quando estava com mais ou menos 14 anos, a tal mãe biológica veio buscá-lo.
Tininha deixou-a entrar e ficou apreciando a dramaticidade da mulher.
O rapazinho subiu nas tamancas e disse poucas e boas à infeliz. No outro dia veio o tal pai, com certeza para reforçar o pedido da tal mulher e saiu vendendo azeite às carradas.
Ficou homem o nosso menino, casou e vieram os filhos. O mais velho tinha vários problemas. Não falava, não andava. Era um verdadeiro peso morto. O pai levou-o à Recife, Rio Janeiro e por fim São Paulo. Ficou em nossa casa, talvez por dois dias.
Carregava o filho, como quem carrega uma criança de meses. Por fim, compreendeu que precisava se conformar e parou de viajar. O filho viveu, creio eu, até os 12 anos. Foi quando descansou de tanto sofrimento.
O Delmari deve ter ganho o céu, pois descuido.