BRINCADEIRA DE RODA

Oh! Rosa, rosa, amarela,
Oh Rosa, amarela eu sou
Oh Rosa, rosa amarela
Rosa branca é meu amor.

Sacudi meu lenço branco
Por trás da sacristia
Bateu na cara do padre
Isso é mesmo o que eu queria.

Oh Rosa, rosa amarela….

Sacudi meu lenço branco
No buraco da parede
Quando vejo meu benzinho
Bebo água sem ter sede.

Oh Rosa, rosa amarela….

Menina, minha menina,
Cabeça de melancia
Um beijo da tua boca,
Me sustenta 15 dias.

Oh Rosa, rosa, amarela….

Sete e sete são catorze,
Três vezes sete, vinte e um
Quem quiser que assoletre
A paixão de cada um.

Oh Rosa, rosa amarela….

A laranja de madura
Caiu n’água, foi ao fundo
Os peixinhos responderam,
Viva D. Pedro II.

OUTRA DA SINHÁ LUZIA

Quando fui aquilo que chamam de professora (a que procura ensinar as crianças o Be A Ba da vida), fui encarregada para um mister que não julgava preparada.

Eram filhos de operários, mas nem por isso dignos de coisa melhor.

Havia duas outras: D. Maria José e Julia Lima, afora o diretor Sr. Ferreira. Eram quatro salões grandes e bem equilibrados para o destino santificado de ler e escrever.

Mas voltando à Sinhá Luzia, ela passou a me chamar de Sinhá Dona Pufessora.

Quando deixei a escola, disse a ela: Sinhá Luzia eu não sou professora.

Então a boa mulher passou a me chamar de Minha comade sinhá dona Farnanzinha. Parecida, não?

SINHÁ LUZIA

Sinhá Luzia trabalhava na casa do tio Getúlio. Tinha uma filha e uma neta. Não conheci nenhuma das duas.
Ela, sinhá Luzia, gostava de contar a vida dela com o marido.

O “belo” marido tomava umas e outras e o resultado é que quando chegava em casa era pra bater na infeliz.

Uma ocasião ela perdeu a paciência. Estava cansada de servir de saco de pancada. Quando ele gritou lá de fora:

– Lá vou eu Luzia Véia! Ela não teve dúvida, pegou uma acha de lenha, acesa no fogão e enfrentou o “distinto” gritando:
– Se for homem, venha…E quem disse que ele a enfrentou? Pra isso ele não estava bêbado!

De outra feita o “querido maridinho” estava com varíola. Para aliviar a queimadura, costumavam forrar a cama com folhas de bananeira. Ela procurou as mais velhas e não tirou aquelas partes do meio. Deitou o infeliz ali e quando ele reclamou que aquilo estava incomodando, ela lhe disse:

– Se você fosse mais bonzinho eu ajeitava mió as coisa pro você. Eu tenho uma galinha e fazia uma canja. Mas você não presta. É uma peste. Então sofra.

Em sua opinião a sua vingança era mais do que justa.

A caridade não se aplica no coração de muita gente. Acha a vingança mais do que justa.

FUTURA OPERÁRIA

O Sr. Hipólito era quem anotava o nome dos candidatos ao trabalho na Fábrica.

Dessa vez foi uma moça.

Ele perguntou o nome, a idade e se adiantou mais um pouco, perguntando donde ela era.

Ela respondeu:

– Nasci no Urucu (município de Alagoas, próximo de Rio Largo).

O bom homem, curioso, perguntou:

– Lá tem muito passarinho?

– Tem sim senhor, respondeu a moça e em seguida acrescentou: – Tem um que canta assim – “vamos trocar o “chibiu”? Se quis, quis, senão quis…

Todos os colegas caíram na gargalhada. O gerente sorrindo, falou:

– Bem podia ficar sem essa.

O Sr Hipólito tinha um filho. Foi posto no rapazinho o mesmo nome e para não confundir, chamava o coitado de Potinho.

TIA ESTER E SEUS APELIDOS


Tio Getúlio teve uma outra empregada que tinha um filho chamado Agassis. A minha tia Ester o chamava de 2 letras.

CASABLANCA, O FILME

Fomos ao cinema Floriano, Anthenor, um amigo Luiz e eu.

O filme era Casablanca, isso nos idos dos anos 30, em Maceió.

Os dois conversaram o tempo todo que durou a projeção do filme. Só eu prestei atenção ao que se passava na tela.

Quando terminou, os dois perguntaram se tinha gostado e se podia contar o que tinha acabado de ver. E eu, educadamente respondi:

– Era só o que faltava! Vocês conversaram o tempo todo e agora querem que eu conte o filme, nem agora nem nunca vou perder meu tempo.

A CASEIRA DO PADRE TORRES

O padre Torres estava reclamando das dores que sentia.

A caseira ouvindo-o exclamou:

– Não é nada não seu padre, é “veiúra”.

Velhice na linguagem dela.

PROSAS DO ERNESTO JATOBÁ

Segure o copo por baixo

Segure com as duas mãos

Enxó, compasso e formão,

fogo, farol, ferro e facho.

Eu procuro, mas não acho

A fulô do mulungu

Tive três anos no Sul

Mais meu mano Felizardo,

Copo branco, copo pardo,

Verde, amarelo e azul

Ajuê, Maria!

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Eu só queria fazer

O que me peito palpita

Caçar uma mulher bonita

Para com ela eu casar.

Se ela me rejeitar

Eu zangado brigo e ralho

Vou mandar comprar um baralho

Pra me divertir na praça.

Sem mulher também se passa

Quem tem mulher, tem trabalho

Ajuê, Maria!

ESSA JÁ É DAS MINHAS

“Não tenho medo do homem,

Nem do ronco que ele tem,

O besouro também ronca

Vai-se ver, não é ninguém! “

Outra:

“Quando Deus criou o mundo,

Deixou grilo e gafanhoto,

E deixou mulher pequena,

Pra beijar o cu dos outros.”

ESSAS SÃO DO NOSSO MUITO AMADO MARINHO VIDAL

“Rancho de cavalo é milho,

De cantador é dinheiro.

Quem canta de graça é o galo,

Para alegrar o terreiro.”

E outra:

“De homem que alisa homem,

Eu só conheço o barbeiro,

Que alisa a cara do macho,

Passa o pente e bota o cheiro.”

TRECHO DE UM DISCURSO

…Jararaca fez e declamou. Meu avô Agérico tinha a gravação num disco de 78 rotações.

Jararaca era o pseudônimo de um bom compositor de cocos e emboladas que fez muito sucesso no Rio de Janeiro. Como parceiro, tinha Ratinho, um ótimo saxofonista. Era uma boa dupla. Ninguém se compara aos dois hoje em dia, por mais que queiram.

Eles se chamavam: Jararaca (alagoano de boa cepa) era Calazans e Ratinho, Severino Rangel Ratinho, era pernambucano.

Mas como eu dizia ou escrevia, discurso esse que, infelizmente, só decorei uma parte.

Foi durante a revolução de 30. Ele, Jararaca, foi o maior crítico da “grande” revolução organizada pelo “insigne” Getúlio Vargas.

Começava assim:

“Meu povo,

Eu vou falá do momento atuá! (palmas e bravos).

Meus concidadão e minhas concidadonas.

Muieres que pegaro em arma e homes que pegaro a corrê.

Povos em gerá, sem distenção de corpolítica, como seja, os branco, os mulato e os mutilado.

Povo dos partido e das emenda. Eu quero abrangê a todos nessa circonferença. A todos que correro e concorrero.”

Infelizmente só decorei até aí. O resto só Deus sabe onde anda.

CHICO

O macaco era da tia Haydée. Vivia em cima da porta de duas folhas, comendo banana ou o que lhe dessem. Com uma fina corrente presa à cintura para não fugir, fazia lá suas estripulias.

Tia Ester não gostava dele, como não gostava de bicho nenhum. Gato, cachorro eram com a irmã, porém, o trabalho de cuidar era da tia Ester.

O macaco é um bicho porco. Sujava a porta e o chão em que vivia e o trabalho de limpar, já viram de quem era!

Tia Haydée devia ter uns 10 anos quando isso aconteceu, era a mimada da casa. A escola que freqüentava ficava bem em frente, do outro lado da rua. Dava para ouvir bem o que se passou em casa de meus avós.

Na sala de viver que era a sala da frente, ali se recebia, se conversava e se trabalhava. Meu tio Getúlio, como alfaiate, na máquina de costura e na enorme mesa de corte. Tinha também uma marquesa (sofá antigo), grande, que devia caber folgadamente mais de 5 pessoas sentadas. Tinha, ainda, uma máquina de costura da minha avó e o bastidor onde trabalhava tia Ester, fazendo filé para ganhar uns trocados. O bastidor ficava perto da porta onde se empoleirava o Chico.

Numa manhã estavam todos trabalhando e tia Haydée na escola. As três janelas da sala que davam para a rua estavam abertas para entrar o sol e o vento (caso estivesse ventando). Tia Ester usava pince-nez (óculos sem aro). Tirou os benditos, colocou-os em cima do risco do bordado junto ao carretel de linha e dirigiu-se à cozinha para ver a panela do feijão. Quando o macaco Chico viu que não tinha ninguém na sala, nem a sua arquiinimiga, não hesitou; desceu pela porta abaixo, pegou com as duas mãos o carretel e começou a malhar as lentes do pince-nez.

A tia Ester vindo pelo corredor, viu o grande espetáculo e gritou:

– Chico, o que você está fazendo?

Ele, mais que depressa, correu porta acima e começou a guinchar, chamando a dona que estava no outro lado da rua.

Nem a presença da tia Haydée evitou que ele levasse a maior surra que um pobre macaco pode levar.

A TOUCA

A Lourdes queria um dinheirinho e, muito pobre que era, pediu à avó que fizesse uma touca bem enfeitada, azul, cheia de fitas…e para quê? Fez uma rifa da linda – para ela – touca e saiu vendendo aos colegas de brinquedo, sem dizer que era uma abençoada touca.

Toda criança, talvez para agradar a amiga, comprou um bilhete que custava apenas 1 tostão, que para nós, era uma fortuna.

Talvez para agradar mais a menina do que a filha, minha mãe me deu o dinheiro. Fui correndo comprar o bilhete e julguem só: foi a única vez que fui premiada em rifa, ou qualquer outra coisa.

E eu me perguntava, decepcionada: – Para que eu quero uma touca? A touca era grande até para o meu boneco.

O CASAMENTO DA FILHA DO MIGUEL TELES

Baixinho, magrinho, enfezado e acima de tudo muquirana, cauíra, mesquinho e para ser mais compreendida: avarento, sim, senhor! Que Deus o tenha na sua benção.

Nasceu, viveu e morreu em Murici. Chamava-se Miguel Teles, casado com filhos.

Contavam que ele ao sair de casa pela manhã para inspecionar o trabalhador infeliz que trabalhasse para ele na sua fazenda, o nosso amigo, primeiro reparava se as galinhas tinham ovo para botar. Na volta para o almoço, se encontrasse alguém que tivesse comprado alguma galinha, ele perguntava se havia pago o ovo que a ave teria de botar de tarde.

– Não, senhor, não paguei.

– Então passa pra cá o dinheiro do ovo!

Certo dia casou uma filha e convidaram gente da Capital.

Como o homem era rico até não mais poder, os convites foram aceitos com agrado. Hoje, como ontem, as festas são mais aproveitadas por causa da comilança. Sacrificou-se capão gordo, perus, porcos e penso que até um boi entrou na matança.

Enfim, estava arrumada a casa e a festa para os convidados. A despensa estava abarrotada de comidas e bolos, como só uma dona de casa abastada sabe fazer.

Ele, o nosso amigo Miguel Teles, foi até a despensa, viu aquilo tudo de comida, fechou a porta e pôs a chave no bolso.

O casamento foi celebrado na missa, pela manhã e todos vieram para a casa da fazenda se empanturrar com as comidas do “grande” fazendeiro.

Deram às 10 horas, meio dia e nada de comida. A noiva perdeu a paciência e indagou da mãe o motivo daquela demora. A coitada, envergonhada, confessou à filha o que acontecia:

– O seu pai trancou a despensa e pôs a chave no bolso.

– Meu Deus, por que o pai fez isso?

Encaminhou-se para ele e disse chorosa:

– Por favor meu pai, abra a despensa, estamos todos com fome!

Fazer o que? Afinal era o casamento da filha.

Todos se regalaram e ainda agradeceram a bondade e fartura do seu Miguel Teles. Que Deus o tenha!

ZÉ GANGURÍ

Ele foi convidado para fazer parte de uma peça teatral no interior da Bahia onde morava. Tinha o apelido de Zé Gangurí, coisa que o fazia virar um “bicho”. Quem quisesse vê-lo uma fera, chamasse de Zé Gangurí.

Muito conhecido por todos e, naturalmente, respeitado pelo gênio estourado, o pobre Zé aceitou fazer o papel de arauto no pequeno teatro. Cidade pequena sem muita distração, o teatrinho ficou apinhado com os espectadores.

Começou a função e ia muito bem, quando, a certa altura da representação, o arauto Zé Gangurí chega para dar a mensagem ao Rei, muito bem sentado em seu trono.

O pobre homem, nervoso como o quê, ajoelhou-se e engasgou – não saía nada da boca do infeliz. Então o rei, dando uma de bonzinho, falou estendendo a mão:

– Levanta-te Zé Gangurí.

E o arauto, pegando o punhal que lhe enfeitava a cintura, bradou:

– Matei-te, rei de merda!…

Foi um Deus nos acuda…e acabou a função!

Cartas de amor

Anthenor distribuía na fábrica a correspondência dos operários. Entre elas chegou uma para alguém que não estava mais lá. Era de um rapaz que morava no Rio e escrevia para a namorada.

Esperando talvez, que a carta fosse reclamada, Anthenor guardou-a por muito tempo.

Um belo dia ele perdeu a paciência e abriu a carta do pobre abandonado.

A missiva dizia o seguinte:

“Ai, que deu-me uma cedente, numa desconsolação, senti no coração um trespasso de repente.

Antes não fora vivente, porque cuidado não tinha. Quando a lembrança me vinha, dá-me novas do passado.

Adeus, flor do meu agrado. Aceite lembrança minha.”

Este era o teor da carta do coitado cheio de saudade da noiva ou namorada que o esqueceu e foi embora…

A LENDA DE SÃO JOÃO, O BATISTA

Contam que Maria, ainda grávida de Jesus, foi visitar Isabel, sua prima, que estava esperando João.

Era um pouco distante e ainda tinha uma ladeira para lá chegar.

Isabel foi recebê-la e feliz pela visita, abraçou-a dizendo: – Bendita és entre as mulheres, bendito é o fruto do vosso ventre.

Maria passou o dia e ao se despedirem, Isabel lhe disse:

– Quando o meu filho chegar, para não teres trabalho de vires aqui, por causa da ladeira, eu pedirei ao meu marido para fazer um fogueira ao pé desta oliveira. Assim saberás do nascimento do meu filho.

O pai de João era sacerdote já entrado nos anos, como também Isabel. Não tinham mais esperança de terem filhos.

Estando celebrando lhe apareceu um anjo e disse-lhe:

– Preparai o vosso coração. Isabel conceberá um filho a quem darás o nome de João, o Batista.

Baltazar retrucou:

– Como terei um filho se já estou tão velho? Não acredito.

O anjo falou:

– Como estás duvidando da vontade de Deus, ficarás sem falar até o nascimento da criança.

E assim foi dito e assim aconteceu.

Por essa razão hoje se festeja São João com uma fogueira e uma pequena árvore ao lado.

Não sei no interior de São Paulo, mas no norte e nordeste era assim que faziam. Talvez hoje não. Tudo muda nesse mundo até os belos hábitos.

A Igreja Católica era hábil em criar a razão da vida dos seus santos.
Alguma lenda até que é bonita, não?

Essa história como a de São Benedito e Santa Rita foi publicada na revista o Mensageiro da Fé. Meu pai a comprava e eu me deleitava com as histórias dos santos e as piadas.

A revista era anual.

OS BAILES

Durante alguns meses com pena da solidão dos estudantes de engenharia, lá em Itajubá, organizei uns bailes para animar um pouco a vida daqueles pobres coitados.

Luiz e Segrid, Domingos e Sidel e mais alguns que não me ocorre, são os casais que se fizeram nesses bailes. A velhice, às vezes, causa um transtorno aborrecido.

Só sei que me sentia muito feliz em proporcionar tanta alegria a tantos jovens que se achavam longe de suas famílias.

Se fiz algo errado, espero que me perdoem.

Quando dava meia noite, sob o protesto dos dançarinos, eu desligava a eletrola.

Puxando na memória, ajudada pela Anajas, lembrei de alguns que frequentavam a nossa casa: José Louro, José Lieb, Peter, Gilberto Arenas (peruano).

Se eu tivesse vontade plena, nunca teria saído de Itajubá. Fomos plenamente felizes naquela terra abençoada de Minas Gerais.

A vizinhança era a melhor possível. A d. Lourdes com a sua alegria, apesar de todos os tropeços da sua vida. A Amelinha com a sua bondade e várias pessoas que nos tocaram o coração, afora os 5 filhos que são mineiros.

Deus abençoe a todos.

O CEGO E A BATATA

A casa que morava minhas tias, minha avó e meu pai com a Maria, ficava numa esquina da rua 7 com a R Arueira.

Indo para Arueira ficava à esquerda da estrada de ferro Maceió-Jaraguá.

Depois da linha de ferro, havia um córrego, o mais sujo que se possa imaginar e uma ponte para chegar na outra rua.

Estou procurando descrever isso para que vocês possam entender o drama da D. Januária.

O cego com seu guia, filho de uns 6 anos, passava toda semana pela janela da Arueira, pedindo esmola. A minha avó nunca deixou de atendê-los. Nesse dia, ela lhes deu uma batata doce que havia sobrado do café da manhã.

E disse ao pedinte: – Não é resto. Tirei da mesa do café agora mesmo.

Eu estava lá e vi o que se passou.

O nosso cego ao invés de por a batata na sacola, a pôs no bolso do paletó. Nós notamos o gesto do infeliz.

Ele agradeceu, atravessou a rua pela estrada de ferro e ao chegar do outro lado, antes de pedir esmola, meteu a mão no bolso, pegou a batata e jogo-a no riacho Salgadinho.

Na semana seguinte veio novamente:

– Uma esmola pelo amor de Deus.

Mal esperava ele, a recepção que recebeu. Minha avó subiu nas tamancas e ele ouviu poucas e boas. O infeliz ainda quis dizer que não tinha feito aquilo.

– Fez sim, senhor. Eu vi e minha neta também. Fiquei reparando porque você colocou a batata no bolso e não na sacola. Não me peça mais esmola. Você não merece.

O infeliz se calou, não tinha razão.

É como diz o ditado: Além de pobre, besta.

NOME

Uma amiga da minha vizinha d. Odete deu à luz e o marido muito ancho (feliz) foi participar aos amigos. Era um menino. Perguntaram o nome e ele respondeu:

– Ainda não tem nome. Eu queria um que enchesse a boca, assim como Amancebaldo.

O que ele pensava do significado do nome, não sei. É de admirar a lembrança.

OS CARANGUEJOS

Um homem contratou um pedreiro para fazer um serviço na sua casa. No contrato constava que o dono da casa também daria o almoço e aí ficaria mais barato, é claro. O econômico não é besta. Ele pensava, “besta é côco que dá leite sem ter peito e ainda dá o olho pra chupar”.

O pedreiro aceitou. Na hora do almoço, já antegozando que iria ter uma boa refeição, o simplório foi almoçar.

O que havia na mesa eram caranguejos e pirão feito com o caldo do cozimento dos ditos cujos.

O que fez o pedreiro?

Comeu o pirão e com um barbante amarrou os caranguejos um a um e colocou na cintura.

Quando o dono viu aquela trouxa pendurada com o homem na escada, perguntou:

– O que é isso aí pendurado na sua calça?

O pedreiro respondeu:

– Isso são caranguejos. Comer essas pestes e amarrar por fora é a mesma coisa.

MORTE DO PADRE TORRES

Morreu o Padre Torres afogado e a sua caseira foi chorando falar com seu papagaio:

– Meu Louro, o “seu” Padre morreu.

E o papagaio muito comovido, exclamou:

– Coitaaado!

Esse mesmo louro quando a sua dona mandava os patos para nadarem no rio que passava nos fundos da casa e quando os patos chegavam a beira d’água, ele começava a falar: – Patu, patu, patu…. e o patos voltavam para o quintal. A pobre da mulher o tirava para os patos chegassem ao rio.

O MOTORISTA

Bregeco era o motorista o Anthenor em Itajubá.

Um dia ele teria que chegar cedo para uma viagem do meu marido e ele estava atrasado um bocado. O “seu” Farias já estava impaciente quando finalmente chegou o nosso amigo.

Perguntei por que ele atrasara tanto. Ele respondeu: – É que fui levar uma senhora na maternidade e fiquei esperando o resultado. Pois a senhora acredite, nasceu um menino de 10 kg.

– Misericórdia, seu Bregeco! Como pode uma coisa dessa!?, disse eu.

– Pois é, dona Fernandina. É o fim do mundo!

Passados alguns dias ele voltou e eu perguntei sobre o pequeno fenômeno, no que ele respondeu: – Morreu, sim senhora. Também com esse tamanho não podia viver, não acha?

Era um bom homem, respeitador e educado, mas para mentir, não tinha outro em Itajubá.

O CASAMENTO AMERICANO

Aconteceu durante a guerra. Um esquadrão (não sei se é este o nome) alojou-se em Maceió. Fazendo o quê, não sei. Só sei que foi motivo para alvoroçar as moçoilas casadoiras.

Americano sempre chama atenção aonde chega. Eram oficiais. Não conheci nenhum pessoalmente, nem por isso estou triste.

Mas vamos ao que interessa.

Uma dessas casadoiras se apaixonou por um tenente e se casaram.

Terminou a guerra e ele levou a esposa para sua terrinha.

Menina bonita e prendada, dizem que rica, foi embora muito feliz.

O caso é que a família do marido não gostou da escolha do filho. E passou a ignorá-la.

Em uma festa em casa dos pais dele, levou-a, como era natural, mas não deram atenção à jovem senhora. Em certa altura do sarau, alguém foi ao piano mostrar suas habilidades de musicista e foi muito aplaudida.

O nosso rapaz, aproveitando o momento, pediu para a mulher para tocar alguma coisa.

Ela aceitou e saiu-se muito bem, sendo aplaudidíssima, sendo abraçada e beijada pelos pais dele, por amigos e parentes ali presentes.

Não sabiam que no Brasil se tinha alguma educação ao ponto de ser pianista. Santa ignorância!

O preconceito é uma enorme pobreza de espírito. Infelizmente isso existe e muito.

JANOCA, o pescador

Era quase noite quando Janoca passou em frente a nossa casa com todos os apetrechos de pesca.

Uma rodinha (um pano) em volta da cabeça, com um pequeno candeeiro de flandre preso no referido turbante. Na mão um puçá próprio para pescar camarão.

Ele ia em demanda do rio Mundaú que passava atrás da nossa casa.

Era a melhor hora da pesca de camarão que se aninhavam para dormir nos capins que nasciam na beira d’água, para dormir e descansar da labuta do dia. Os camarões, como os peixes, também têm direito de descanso, como todo vivente.

Meu pai que estava no terraço, ao vê-lo passar perguntou:

– É a melhor hora para pescar camarão, Fernando, respondeu enquanto caminhava para a beira do rio.

Foi-se o nosso amigo e não demorou 2 horas, já estava de volta.

Meu pai estranhou e admirado perguntou:

– Já de volta, Janoca, o que aconteceu?

– Não lhe conto, Fernando. Estava começando a pescar quando senti junto de mim uma pessoa pescando também. Continuei, alguém continuou. Olhei, não vi ninguém. Aí tive medo. Pescar com assombração, não é do meu feitio. É melhor ir para casa, você não acha?

– Você andou bebendo?

– Não, Fernando. Hoje não bebi nem uma gota!

O nosso amigo Janoca era operário da fábrica e nos fins de semana aproveitava a folga para tomar umas e outras.

Memórias da Vovó Dina – SÃO BENEDITO

Era frade em um convento. Preto e pobre era usado como um bom serviçal por ser humilde e prestativo.

Uma ocasião, tirando água do poço, veio um crucifixo preso no balde d’água.

Foi o maior alvoroço.

Por isso virou santo.

Melhor para ele, não? Passou a ser tratado com grande respeito e carinho. Não fosse santo, continuaria a tirar água do poço e servir aos seus companheiros de clausura.

Diz o ditado: Quando Deus tarda, está a caminho.

Memórias da Vovó Dina – SANTA RITA DE CASSIA (história da minha mãe)

Santa Rita de Cássia foi casada e tinha filhos.

Um belo dia – para ela – era aniversário do “bom” marido. Resolveu caprichar no almoço e nos enfeites da mesa.

Dispôs a melhor louça, a mais bonita toalha e umas flores no centro da mesa.

Pouco antes da chegada do aniversariante, um franguinho desgarrado da mãe subiu na mesa e deixou um “presente” desagradável para o dono.

Quando a Santa deu fé do “presente” estava na hora do “abençoado” chegar. Ela, apavorada viu que não havia tempo de trocar a toalha. Pegou um pires e cobriu o que o franguinho havia deixado de “presente” para quem bem o merecia.

Chegou o marido e olhando para a mesa admirado exclamou:

– Tanta coisa! Só falta cocô de galinha.

E ela com a proverbial paciência dos santos, tirando o pires, disse:

– Por isso não. Está aqui.

A história não diz se ele de uma boa gargalhada ou não gostou do “presente” do franguinho.

Memórias da Vovó Dina – HISTÓRIA DA D. SANTA

Ela era mãe da Sinhá, mulher do tio Getúlio. O marido “seu” Sebastião não parava em casa com a família.
Só vinha em casa para deixar um filho na barriga da mulher. Só que havia um porém, ele tinha um grande hábito de não deixar nenhum dinheiro em casa. Era como se fosse uma visita.
As viagens eram, sobretudo, para o Pará.
Ninguém sabe, nem ele dizia, quantas índias ele deixou prenhas. Era muito amigo dos índios, dizia ele.
O homenzinho era um grande garanhão e também um grandíssimo sem-vergonha.
As duas deram luz no mesmo dia, na mesma casa, só em quartos diferentes.
Nasceram de d. Santa, Doca ou Joana e da irmã a Edith. Foram criadas juntas pela própria d. Santa. Se foi canonizada não sei, mas bem que merecia.
Para sustentar a família ela costurava roupas de homem. Sinhá fazia filé, Osvalda ficava na cozinha, Magnólia era menina, Eutíquio foi para o Rio de Janeiro, José Luiz foi para o Pará com o pai, Doca ajudava na casa e bordava também. E depois quem assumiu a casa foi o “santo” Euzébio.

No frigir dos ovos, o nosso querido Euzébio foi o mais sacrificado de todos.

Memórias da Vovó Dina – O CIRCO

O Palhaço estava conversando com o parceiro, animado e feliz como sempre parece.

Muitas vezes tem problema no coração, com a família ou mesmo com os componentes do trabalho.

Não deve ser fácil muitas vezes aparentar alegria que está longe de sentir.

Mas como ia dizendo, o Palhaço estava a conversar com o parceiro, quando um chato de galocha começou a fazer críticas ao Palhaço em alto e bom som:

– Palhaço bobo, sem graça.

Dizia mais coisas que não lembro pois era menina ainda.

O tal rapaz que se chamava Leonel, que era sapateiro e dos bons, tinha como brincadeira anarquizar com tudo, especialmente o pessoal do circo. O que era sempre, pois era o que não faltava em Rio Largo era um bom circo.

De repente o parceiro do Palhaço lhe perguntou:

– Você gosta de frutas?

– Muito de toda fruta. Mas o que mais gosto é do abacate.

– Sério? E o caroço, você engole?

– Não, nem pensar. Senão eu fico entupido mais Leonel!

A vaia que o Leonel recebeu fê-lo calar-se de uma vez por todas.

O Palhaço ficou em paz.

Memórias da Vovó Dina – MINHA CASA NOS IDOS DE 1945

Morávamos na rua 7 de setembro, 126.

Uma bela manhã chega, vindo de Rio Largo, o filho do Sr. Satuba, que tomava conta do sítio do tio Getúlio.

O rapaz Cícero queria ser nosso hóspede.

Saí com ele mostrando porque não podia hospedá-lo:

No meu quarto, meu marido, eu e o Rodrigo Araês; na sala de visitas dormiam tio Odolino em uma rede e Failde Aroni no berço e Regina Angela; no segundo quarto ocupavam Wilmar Jatobá e mais Fernando Ariel, Antenor Araken, Percival Arthur; no terceiro dormiam D. Joaninha e Joana a minha empregada; na sala de jantar em uma rede, meu irmão José Pinto e no chão, no colchão, meu cunhado José Braga.

Até o almoço não tinha jeito de oferecer, pois o negócio era limitado, graças a Deus.

Saí com ele e fui pedir a Maria, minha madrasta. Ela aceitou o Cícero para almoçar.
Pois não é que o rapaz voltou no outro dia?

Aí lhe mostrei novamente o empecilho da hospedagem e perguntei se não tinha parentes por ali.

– Tenho uma tia em Bebedouro, disse ele.

– Então, meu filho, vá para casa da sua tia porque aqui não tem jeito.

Levei-o novamente para almoçar com Maria, meu pai, minha tias, minha avó e o Juraci.

Um dia cheia dos dois parasitas Josés, subi nas tamancas e mandei que os dois fossem procurar trabalho.

O meu marido labutava no Banco, só Deus sabia como para sustentar tanta gente… que fossem cuidar da vidinha deles.

Não gostaram, naturalmente. O José Braga foi para casa de um primo que o colocou na polícia onde era sargento.

Com o tempo o José se engraçou da filha do primo e casou com a Antonieta. Era uma bonita menina. Se foram felizes, eu não sei, só sei que tiveram um batalhão de filhos.

Memórias da Vovó Dina – MÃE DO PADRE JÚLIO

Duas amigas deitadas numa rede, jogando conversa fora. A prosa era grande e o assunto era as hemorróidas da mãe do padre.

Isso se passou na cidade de Penedo, onde o padre era Vigário.

Conversa vai, conversa vem, o assunto continuou, quando outra senhora veio lhes perguntar qualquer coisa, interrompendo o “bonito” assunto.

Ouviu a resposta à sua pergunta e foi embora.

Ao sair, uma da rede perguntou à companheira:

– Quando fomos interrompidas, o que estávamos falando mesmo?

– No cu da mãe do padre Júlio, disse a outra.

Memórias da Vovó Dina – BLECAUTE

Estávamos em regime de escuridão por causa da “abençoada” guerra.

Alguém passou e esqueceu a porta aberta e a luz do corredor refletiu na Praça Sinimbú.

O guarda de plantão viu a luz acesa e foi lá em casa para me interpelar.

Da nossa casa dava para ver a outra rua que dava continuidade à Praça e na esquina morava a família Cansanção.

Gente de muito prestígio podia fazer o que bem entendesse, inclusive deixar a luz acesa quando era proibido e ademais, com a janela aberta.

Foi isso que falei ao guarda e ele cabisbaixo foi embora cuidar da sua vidinha.

No outro dia contei ao meu pai o acontecido e ele me recriminou a imprudência sobre o que falei ao guarda.

Eu me pergunto: será que fiz mal em defender o nosso patrimônio?

Chegada da Anajas

Quando foi chegando o dia de dar à luz a Fernanda Anajas, pedi à minha querida madrasta e a meu pai se poderiam ficar com o Flavio Alberoni, que só tinha um ano, enquanto eu estivesse na maternidade e de repouso, que seria mais ou menos um mês.

Imaginei que seria muito trabalho minhas tias ficarem com 9 crianças e mais de quebra uma recém nascida com uma mãe meio doente, quando voltasse para casa. Além disso, o menino estava começando a andar.

A tia Haydée trabalhava na máquina, a tia Ester era a única na cozinha e no movimento da casa. Era muito trabalho e eu não poderia ajudar muito.

Eles compraram até roupa para o meu filho. Ele não parecia um neto e sim um filho muito querido.

Quando o trouxeram de volta, um mês depois, o desagrado da tia Haydée foi muito grande.

Eu, no entanto, fiquei muito feliz e até hoje agradeço a eles o bem que nos fizeram.

PROSAS DE Sr ERNESTO

Eu só queria fazer

O que meu peito palpita

Caçar uma mulher bonita

Para com ela eu casar.

Se ela me rejeitar,

Eu zangado brigo e ralho.

Vou mandar comprar um baralho

Prá me divertir na praça.

Sem mulher também se passa,

Quem tem mulher, tem trabalho.

_______________________

Seguro o copo por baixo

Segura com as duas mãos

Fogo, farol, ferro e facho.

Eu procuro mas não acho

A fulô do mulungu.

Tive três anos no sul,

Mais meu mano Felizardo.

Copo branco, copo pardo,

Verde, encarnado e azul.

– Ajuê Maria.

Quem não tem o que dizê,

Pôe na garganta e vê decê.

BODAS DE OURO DE MARINETE E JURACI – Flavio Alberoni

Soube do aniversário

Assim de repente

E todo meu universo,

Parou por um momento.

Há muito a dizer

E que deveria ser dito

E muito para se mostrar

Que ainda ficará pedido

Pois estamos no reino do coração

Onde a palavra

Não vale mais que um  tostão!

Existe algo

Além do coração

Apenas para ser sentido.

Suas vidas, não apenas suas vidas,

São também as nossas vidas

Misturadas numa só.

E isso feito como sempre sem esforço,

Minha família reconhece o carinho com gosto

E saúda a data num gesto largo e universal

Pois ela é de todos!

E por este momento,

Por este dia que a todos pertence,

Só me resta agradecer

Simplesmente.

FRATERNIDADE – Rodrigo Araês

Quando nasci meu pai adoeceu

Quando nasceu meu irmão, meu pai renasceu.

Demorei muito para entender o contraste de nossas vidas.

Sou o último dos primeiros sete.

Ele é o primeiro dos últimos sete.

Nos nossos grupos de estudos representava

O bisturi que lancetava o tumor,

Meu irmão era o curativo que cicatrizava a alma.

Sou o Atanor onde se queima a Grande Obra,

Ele, o elexir da vida, panacéia das dores do mundo.

Suas poesias são um oceano,

Em cujo seio a imaginação se libera

Na escrita sou um pântano,

Que poucos atravessam.

Busco na mente a chave dos mistérios,

Pela via amorosa.

Meu irmão é uma grande árvore,

Em sombra se refazem os viajantes cansados

Sou um cacto alucinogênico,

Que impele as pessoas à morte do eu pessoal.

Um úmido, outro seco.

Posição variável, dependendo do grupo.

No meio poético, ele é Luz e eu a Sombra,

A parte oculta do icerberg.

Em outras partes os papéis se invertem,

Ele é o Nagual, sou Tonal.

Juntos formamos um todo.

Somos princípio e fim da nossa família

O fim de um é princípio do outro.

Quem o conhece,

Sente minha presença,

Quem me conhece,

Reconhece a força velada.

Não se iludam,

Somos puro mistério.

Não se acomodem,

Somos mortais.

SP, 27/06/2003

A RIQUEZA INESPERADA

Uma mulher estava muito doente, morre não morre.

Duas amigas vizinhas estavam cuidando da moribunda. A pobre mulher nenhuma vez deixou que elas lhe dessem banho. Morreu a infeliz. As duas amigas conversando e se entendendo, resolveram banhar a morta.

Uma falou para a outra: – faz 15 dias que esta criatura estava doente sem tomar banho. O cheiro não é dos melhores.

Se assim pensaram, assim fizeram.

Tiraram a roupa da amiga e…. ficaram admiradas!

Na cintura estava uma gorda faixa de pano. Abriram a tal faixa, pois nunca viram defunto de faixa e o que viram guardado na dita cuja? Uma fortuna em cédulas!

Não sei se ficaram ricas. O que deve ter acontecido é que tiraram a sorte grande às custas da amiga morta.

Esta história é verídica. Passou-se em União dos Palmares, Alagoas.

A PRINCESA (DO TESOURO DA JUVENTUDE)

Uma princesa vivia preocupada com o seu futuro. Não parava de pensar como seria quando fosse velha, sem a presença dos pais, dos amigos e será que continuaria rica?

Resolveu ir para a beira do lago.

Quem sabe seria inspirada pelo seu Anjo da Guarda?

Chegou-se à fonte e começou a rezar.

De repente viu uma mulher muito linda sorrindo para ela e perguntando:

– Por que se preocupa tanto com o futuro? Não se sente feliz agora? O seu futuro já está traçado, a não ser que você não queira que aconteça. É que você escolheu o sofrimento enquanto for moça e ser feliz na velhice.

Com o coração aquietado pela revelação, a princesinha voltou resignada para seu palácio.

Resolveu aceitar com calma a ordem do Rei, seu pai, de casar-se com um ministro meio velho, mas muito rico, amigo incondicional do seu pai.

Muitos anos depois, o marido foi para o outro lado da vida, deixando-a com um filho bom e valoroso.

Casou-se o jovem e com netos ao seu redor, teve uma velhice terna e sossegada como o Anjo da Guarda havia prometido.

Esta é a vida de muitas criaturas que pensam que o verdadeiro amor não existe.

Se Deus nos ajuda, para que ter medo do futuro? É só ter Fé.

PLATIBANDA E O JOÃO

João, um afilhado do meu pai, estava hospedado em nossa casa em pleno Carnaval.

Meu pai, animado como ele só, mais uma vez organizou um bloco. Dessa vez íamos “assaltar” a casa do dr. Armando Silva em Cachoeira.

Quando lá chegamos, cantando e dançando naquela animação, a tia Ester sentiu falta do João. Dai a poucos minutos ele apareceu cansado e suado.

A tia Ester perguntou: – Onde você estava?

Ele respondeu: – Estava na platibanda, dançando.

– Será que você é lagartixa? Quem sobe em parede é ela.

Platibanda é um termo que se usa para determinar a parede que separa o terraço do resto da casa.

O coitado não sabia a diferença e confundiu terraço com platibanda.

JURACI E O BULUTA

Ele, o Jura, teria uns 3 anos quando isso aconteceu.

Na casa da minha avó Januária não faltava hóspedes amigos ou pessoas bem recomendadas para ficarem uns poucos dias.

Desta vez, porém, o hóspede era o amigo e compadre Manuel Lucas.

Ele morava em Maceió e já havia sido nosso vizinho em Rio Largo. Pela vaidade da filha mais velha, foram morar em Maceió e por essa razão o compadre ia e voltava toda semana para vender os seus produtos aos sábados e domingos nas feiras. No sábado a feira era de tarde e no domingo, na parte da manhã.

No sábado ele se hospedava em casa da minha avó. Fazia um grande lanche ou ceia e ia dormir para recomeçar a lida no domingo pela manhã.

Num dos sábados estava ele à mesa e o Juraci, curioso como toda criança, ajoelhado na cadeira ao lado, olhava o nosso amigo engolir placidamente, tudo que havia para saciar o seu grande apetite.

Quando ele acabou, o Juraci se voltou para a mãe e disse:

– Mamãe, o Buluta memeu a peteta todinha!

E o compadre perguntou: – O que ele disse?

A tia Haydée disse: – Nada não, coisa de criança.

Para quem não sabe, a tradução é: “Mamãe, o Lucas comeu a manteiga todinha!”

A CRUVIANA

Um viajante, perdido na mata, chegou de noite em uma fazenda e pediu ao fazendeiro pousada.

Cansado de andar e com muita fome e sede, foi bem recebido pelo senhor, que disse:

– Infelizmente, dentro de casa não tem lugar pois estou com visita. O senhor aceita dormir na casa de farinha?

– Não, senhor. É que me perdi na mata. O que o senhor arranjar, pra mim está ótimo.

Depois de comer do oferecido pela dona da casa, o homem foi saindo dando boa noite e recebendo das mãos do dono da casa um cobertor, uma esteira e um travesseiro.

O dono falou então para ele:

– Um momento, é bom o senhor se cobrir bem. De madrugada vem a cruviana. Se prepare.

O ingênuo saiu pensando: – Cruviana? Seja o que for, estou preparado.

De madrugada acordou com um barulho de passos fortes.

Deve ser a cruviana, pensou.

Quando as passadas foram chegando mais perto, pegou da arma e… atirou na cruviana.

De manhã, levantou-se, viu a cruviana morta. Muito feliz foi entregar os apetrechos que havia usado para dormir e agradecer ao dono da fazenda.

A mulher lhe deu o café e o senhor lhe perguntou:

– A cruviana apareceu?

– Apareceu sim senhor. Mas eu passei-lhe um tiro.

–  Como é? O senhor então matou o meu burro?

Cruviana é o frio da madrugada!!!

E o viajante pagou pelo burro e ficou a pensar:

– Como eu ia saber quem era a tal cruviana? Nunca ouvi essa palavra!

Quem não sabe é como quem não vê.

Quem com porcos se mistura, farelos come.

POESIA DE JARARACA E RATINHO

Não quero dizê com isso

Qui se dêxe de casá

E os casado me adiscurpe

O meu modo de pensá.

Minha premera muié

Morreu só de gênio mau

Seu dizia quero carne

Só me dava bacaiau.

Com três mês de casamento

Qui assubi numa balança

Só pesava 15 kilo, meu Deus.

Pois ela quando morreu

De vivê só namorando

Um óio fechou  a porta

O outro ficou piscando.

Casei a segunda vez

E desta quaje qui nem falo

Qui ela era tão pura, qui inté a candura

De um coração de cavalo.

MISSIQUITO, MISSIQUITO

Assisti a isso em Viçosa(AL)

O menininho estava sentado no batente da casa, na porta da frente.

Creio ser filho da empregada.

Nu e com os olhos remelentos. Pelo jeito não havia comido ainda. Eram umas 8 horas da manhã.

Eu ia passando e curiosa, pare, fiquei pensando e olhando o inocente, perguntando a mim mesma o que seria daquela criança no futuro.

Os olhos, que ainda não tinham sido lavados, eram vítimas dos mosquitinhos, achando bom o que havia neles.

De repente ele, o pobrezinho, estendeu o dedo indicador e tirou qualquer coisa do canto do olho.

Olhou para o dedo e disse:

– Missiquito, missiquito, tu papa eu, eu papo tu.

E feliz pela vingança, pôs o dedo na boca.

DELMARI

Cristina, Tininha para os íntimos, era afilhada da minha mãe.

Solteira, morava com os irmãos que trabalhavam na fábrica, enquanto ela ficava em casa, labutando.

O Sr. Arlindo Monteiro ficou viúvo com dois filhos menores. A filha mais velha, Maria Julia, casada, não ligou nem para o pai nem para os dois irmãos. Havia mais dois rapazes que moravam no Rio.

Só, com as duas crianças, ele resolveu não ficar sem uma companheira e em poucos meses casou com a Tininha.

Dessa união nasceram 3 filhos: Abiassi, Marci e Delmari. Esse último morreu ainda pequenino e a Tininha fincou inconsolável.

Um belo dia, indo à Maceió, uma amiga lhe falou de uma criança, praticamente abandonada pela mãe, se ela não gostaria de vê-la. Foi-se a Tininha ver a criança.

Tinha o inocente alguns meses de vida e de sofrimento. Estava dentro de uma rede, choroso, sujo e tendo por brinquedo uma tesoura. A mãe ausente para quem o filho era um estorvo ganhava vida sabe Deus como.

O pai era farmacêutico em Maceió e a pobre criança “vivia” dessa maneira.

Condoída com aquela miséria, Tininha esperou que chegasse a fulana para saber se ela lhe daria o filho.

Não houve negativa nenhuma. Registrado o menino, levou-o a mãe do coração para Rio Largo.

Batizou-o com o nome do último filho.

Os padrinhos foram Anthenor e a tia Ester de quem a Tininha era amiga incondicional.

Delmari foi criado com muito amor e carinho dos pais e irmãos adotivos.

Quando estava com mais ou menos 14 anos, a tal mãe biológica veio buscá-lo.

Tininha deixou-a entrar e ficou apreciando a dramaticidade da mulher.

O rapazinho subiu nas tamancas e disse poucas e boas à infeliz. No outro dia veio o tal pai, com certeza para reforçar o pedido da tal mulher e saiu vendendo azeite às carradas.

Ficou homem o nosso menino, casou e vieram os filhos. O mais velho tinha vários problemas. Não falava, não andava. Era um verdadeiro peso morto. O pai levou-o à Recife, Rio Janeiro e por fim São Paulo. Ficou em nossa casa, talvez por dois dias.

Carregava o filho, como quem carrega uma criança de meses. Por fim, compreendeu que precisava se conformar e parou de viajar. O filho viveu, creio eu, até os 12 anos. Foi quando descansou de tanto sofrimento.

O Delmari deve ter ganho o céu, pois descuido.

A COCEIRA

Um menino estava com uma sarna danada e se coçava diante do rádio.

De repente o locutor começou a propaganda do Mitigal, remédio contra sarna e diz:

E o pobrezinho ouvindo aquilo, exclamou aborrecido:

– Se coço, se coço, se coço.

E continuou ouvindo o rádio e se coçando.

AZUL DE METILENO

Aos operários da Fábrica da Cia Alagoana de Fiação e Tecidos era dado como medicamento para sarar dos ataques de impaludismo ou maleita uns cachetes ou comprimidos. Os tais cachetes eram feitos do mesmo modo como se fazem as hóstias. Eram duas unidas e recheadas com o pó de azul de metileno.

Tomar aquilo tão grande era horrível.

Eu que sofri um ano de impaludismo, sei como era ruim engolir aquele troço.

Como estava dizendo, era o remédio do operariado, indicado pelo médico.

Entre outros, havia um menino de uns 11 anos que trazia algumas frutas e verduras que o pai plantava para vender, ajudando desta forma no salário minguado da Fábrica.

Uma das freguesas, d. Mariquinha, estranhou a cor da camisa que ele estava usando e perguntou:

– Está com a camisa azul, comprou outra?

– Não senhora, disse o garoto, é que meu pai teve impaludismo e tomou aquele remédio que mija azul. Então a minha mãe aproveitou e tingiu uma porção de roupa.

Economia se faz assim, não?

O PADRE E A VELHINHA – outra de lá

O Padre ia fazer a comunhão de umas dez velhinhas.

Ele tinha o triste costume de jogar cartas e punha no bolso da batina as fichas que sobrava, guardando-as para o próximo jogo.

Nessa manhã começou a comunhão e foi colocando as hóstias nas bocas ávidas das coitadas. Como eram muitas e o sacristão com certeza não tinha contado as comungantes, faltou uma hóstia para uma das velhinhas.

– E agora, pensou o padre. O que é que eu faço?

Foi quando se lembrou das fichas. Pegou uma e pôs na boca da velhinha a que “sobrava”.

Ela saiu toda feliz e foi sentar ao lado da amiga. De repente perguntou a ela:

– A sua hóstia já acabou?

– Sim, disse a outra.

– Então eu acho que o Padre me deu um pedacinho do osso de Nosso Senhor. A minha não acabou.

POESIA DA MARISE

Diga-nos companheiro

A visão que nós temos

Quem é essa mulher de cajado nas mãos

Com tão linda tiara de hibiscos

Tecida por entre os cabelos?

Ora, deixa esse enlevo, amigo

E conta-nos, logo!

Quem é essa de cujas pegadas

Nascem flores multicoloridas

Que balançam ao vento

Num balé orquestrado

Unicamente pelo seu respiro

E na graciosa revoada dos pássaros

Percebe-se a ela

O aceno do Senhor Nosso Deus?

Não podemos entender tal mistério…

Deixa esse no sorriso nos lábios

E a luz que te inebria a alma, criatura do bem,

E revela-nos:

Queremos saber dessa mulher!

Eis que nossa paciência se esgota…

Pois nos reuniu em cortejo.

De nossas almas brota a paz tão esperada

Presente do Criador para a ocasião…

Como pode negar-nos esse anúncio?

Diga-nos Percival,

Quem é essa mulher

Que apenas de passagem

Nos encanta a essência

E pelo olhar hindu dos mestres

Nos aquece das lembranças gélidas

Encerrando o sol no sorriso natural?

Essa mulher, irmãos eternos,

Se ainda não sabem,

É Fernandina

Minha mãe…

Não foi por vaidade eu copiei a poesia acima. A minha filha Anajas foi de opinião que devia copiá-la por ter sido escrita de coração aberta.

O PADRE E O CORDÃO – mais uma de Rio Largo

O padre Vigário não sabia mais o que fazer para melhorar os ganhos da paróquia.

Os dízimos não davam para nada e o pobre infeliz vivia arrancando os cabelos.

Um belo dia, depois de muita rezar, teve uma idéia.

Colocaram o anjo perto da porta, um pouco para dentro, colocaram um cordão ou barbante no pescoço do anjo e a outra ponta por trás. O sacristão sentou atrás e meio encoberto, pegou a outra ponta do cordão. Ao lado do anjo deixaram uma vasilha para receber os trocados. Aí começou uma era de fartura. Todo mundo gostava de ver e ouvir o anjo balançar a cabeça, dizendo: – Muito obrigado.

Até que um dia, o anjo ficou calado. O padre perguntou a razão e o sacristão, muito pesaroso falou: – Seu padre, o cordão rompeu!