20/Maio/71 – França

Vovó Dina com seu diário no hotel Roy René, em Aix-en-Provence.

Passamos a fronteira sem novidades até agora, graças à Deus.

Estamos almoçando em um Euromotel Roussillon – Restorante de Salses. Avistamos ao longe os Pirineus. Não sei se os veremos de perto. A topografia mudou um pouco. Antes se entrarávamos em território francês, víamos coisas lindas em cerâmica, fábricas e mais fábricas da linda arte. Vasos, pratos para parede, jarros para água, vasos para flores, estátuas, estatuetas e uma infinidade de coisas úteis e para enfeites. As estradas, na maioria, são arborizadas. Lembra a que vai para São Lourenço, via Engenheiro Passos. A diferença é que aqui é feita pela mão do homem (a arborização, bem entendido) e lá foi a natureza. Vê-se vinhedos em profusão. Anda-se quilômetros só avistando vinhedos brotando, pois a poda já se fez e eles estão se preparando para dar ao homem os seus saborosos frutos.

Chegamos em Aix-en-Provance cerca das 18h15. Cidade velhíssima pois deve ser do tempo dos Reis Luiz, senão mais velha. Bem cuidada e tem que ser cheia de requintes como o velho francês sempre quer ser, apesar dos tempos modernos.

É ampla, cheia de árvores e muito limpa, só que não é o meu tipo. Acabamos de jantar e a Lourdes e eu viemos para os quartos. O Antenor e o Waldemar foram fazer o “quilo”. O Hotel é magnífico. Até hoje não havia me hospedado em um quarto tão “chic”, para usar o termo francês. O quarto é amplo, na entrada tem, do lado esquerdo, um sanitário e um grande e fundo armário. Em frente duas portas: uma para o quarto propriamente dito e a outra para o quarto de banho. No quarto de dormir, com paredes forradas de papel com linda estampa de aves esvoaçando em galhos de árvores, em tons levemente azulados, pássaros de várias cores, do azul passando para o verde, rosa vermelho e tons de amarelo. Tudo isto em fundo creme. Duas camas de ferro dourado, cobertas com cobertores amarelos e lençóis alvos. Duas cadeiras simples e duas poltronas forradas em seda verde. Entre as duas poltronas havia uma mesa branca com tampo de vidro.

Fernandina em quarto de hotel em Aix-en-Provence, na França

Ao lado de cada cama um criado mudo, brancos e, no lado esquerdo uma secretária com pasta para escrita, com tampo vermelho e pintada de branco, telefone e porta mala. Armário com prateleiras e, na porta, do lado de fora, um grande espelho. Portas, armários e barra das paredes são brancas também. O chão é coberto por um carpete vermelho escuro com coroas e ramos de folhas em verde e amarelo.

O banheiro tem duas portas: uma que dá para a entrada ou “hall” e a outra para o quarto. É estreito em proporção ao comprimento, tem a mesma extensão do quarto e uns dois metros de largura. É branco e cinza, sendo que o tampo da mesa toillete é em grafite, cortina verde no quarto e branca engomada no banheiro.

Nas poltronas panos brancos com rendinhas nas bordas, e engomadas. É adorável para dois pombinhos em lua de mel. O piso do banheiro é em pastilhas grafite escuro, salpicado de pastilhas brancas, geladeira pequena, bem sortida, branca também e um grande armário de porta escura. Banheira enorme, bidê, duas pias e box com chuveiro, com portas de correr de vidro.

O Antenor estava procurando a razão do movimento tão intenso desta pequena cidade. Ela é próxima de Nice, cidade de jogos, cassinos e de Mônaco, principado que vive em função de Monte Carlos. É natural que a vida das cidades circunvizinhas tenham intenso movimento. Mesmo que aqui não houvesse cassinos (tem quinze) o grosso dos turistas e jogadores que não encontrassem ou não quisessem ficar por lá viriam para cá, pois estamos há 180 e poucos quilômetros de Nice. Só passamos uma noite aqui. Estamos com pena de deixarmos o belo e simpático Hotel Roy René. É também cidade de concertos musicais e uma Universidade para estrangeiros.